TERÇO DA DIVINA MISERICÓRDIA
Para rezar o Terço da Divina Misericórdia usa-se um terço comum, seguindo a sequência abaixo:
Pai Nosso
Pai Nosso que estais nos Céus, santificado seja o vosso Nome, venha a nós o vosso Reino, seja feita a vossa vontade assim na terra como no Céu. O pão nosso de cada dia nos dai hoje, perdoai-nos as nossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido, e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal. Amém.
Ave Maria
Ave Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco, bendita sois vós entre as mulheres e bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus. Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós pecadores, agora e na hora de nossa morte. Amém.
Credo (Símbolo dos Apóstolos)
Creio em Deus, Pai todo-poderoso, Criador do Céu e da Terra E em Jesus Cristo, seu único Filho, nosso Senhor que foi concebido pelo poder do Espírito Santo; nasceu da Virgem Maria; padeceu sob Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado; desceu à mansão dos mortos; ressuscitou ao terceiro dia; subiu aos Céus; está sentado à direita de Deus Pai todo-poderoso, de onde há-de vir a julgar os vivos e os mortos. Creio no Espírito Santo; na santa Igreja Católica; na comunhão dos Santos; na remissão dos pecados; na ressurreição da carne; e na vida eterna. Amém.
Nas contas maiores do Terço (1 vez)
Eterno Pai, eu Vos ofereço o Corpo e o Sangue, a Alma e a Divindade de Vosso diletíssimo Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo, em expiação dos nossos pecados e dos do mundo inteiro.
Nas contas menores do Terço (10 vezes)
Pela Sua dolorosa Paixão, tende misericórdia de nós e do mundo inteiro.
Invocação ao final do Terço (3 vezes)
Deus Santo, Deus Forte, Deus Imortal, tende piedade de nós e do mundo inteiro.
Origem e forma correta da devoção
Esta oração é um presente especial de Deus para os nossos tempos. Ela foi ditada por Jesus à irmã Faustina, em Vilnius, nos dias 13 e 14 de setembro de 1935. Na sexta-feira, 13 de setembro, a Irmã Faustina, em sua cela, teve a visão de um anjo que vinha punir a Terra por seus pecados. Quando viu esse sinal da ira de Deus, ela começou a pedir ao anjo que se detivesse por um instante, e o mundo faria penitência. Contudo, quando se viu diante da majestade da Santíssima Trindade, não ousou repetir essa súplica. Somente quando sentiu o poder da graça de Jesus em sua alma é que ela começou a rezar com as palavras que ouvia interiormente. Quando eu assim rezava – escreveu no Diário – vi a impossibilidade do anjo em poder executar aquele justo castigo, merecido por causa dos pecados (D. 475).
No segundo dia, quando ela foi à capela, mais uma vez Jesus a instruiu sobre como rezar essa oração, a que chamamos Terço da Divina Misericórdia. Primeiro dirás o Pai-Nosso, a Ave-Maria e o Creio – ensinou à Irmã Faustina – depois, nas contas do Pai-Nosso, dirás as seguintes palavras: “Eterno Pai, eu Vos ofereço o Corpo e o Sangue, a Alma e a Divindade de Vosso diletíssimo Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo, em expiação dos nossos pecados e dos do mundo inteiro”. Nas contas da Ave-Maria rezarás as seguintes palavras: “Pela Sua dolorosa Paixão, tende misericórdia de nós e do mundo inteiro”. No fim, rezarás três vezes estas palavras: “Deus Santo, Deus Forte, Deus Imortal, tende piedade de nós e do mundo inteiro” (D. 476).
Essa fórmula de oração é destinada à recitação individual e comunitária. Quem mudasse o plural para o singular na recitação individual – “nossos pecados” para “meus pecados”; “tende piedade de nós” para “tende piedade de mim” – agiria contra a vontade de Jesus – escreve o Pe. Ignacy Różycki – e o que ele recitaria não seria mais o Terço da Misericórdia, porque “nós” nesta fórmula significa a pessoa que recita e todos aqueles por quem ele ou ela está rezando especialmente, enquanto “o mundo inteiro” é todo o mundo, vivos e mortos. Assim, Jesus exigiu que o recitador do Terço suplicasse Sua misericórdia “por nós” – e não “por mim” – isto combate o egoísmo na oração e torna o Terço da Misericórdia um ato de amor sacrificial. No conteúdo do Terço da Divina Misericórdia, não apenas não se pode mudar a flexão de número dos substantivos, como também não podem ser feitas alterações, adicionando ou retirando palavras.
Entretanto, muitas irregularidades são encontradas na prática de popularizar e recitar essa oração. Na maioria das vezes, são acrescentadas palavras ou frases diferentes, como, por exemplo, “tende piedade de nós, do Santo Padre, de (…) e do mundo inteiro”, ou, “por Sua dolorosa Paixão, pelas sete dores da Mãe de Deus, tende piedade…”, ou ainda, “Glória ao Pai e ao Filho… dito logo após o Creio. Ocorre também que no conteúdo do Terço ditado por Jesus, omitem-se algumas palavras, como por exemplo, no final, “e do mundo inteiro”, limitando-se à fórmula retirada do Triságio. Quaisquer alterações, acréscimos ou subtrações do conteúdo do Terço da Divina Misericórdia provocam uma mudança de sentido e, como resultado, faz-se uma oração diferente daquela ditada por Jesus. Essa oração também não deve ser rezada como o rosário, e as dezenas individuais não podem ser separadas por meditações, intenções ou textos de qualquer tipo. As intenções ou meditações devem ser colocadas no início, antes do texto do Terço, para que seja rezado integralmente na forma dada por Jesus. Esse texto do Terço tem o imprimatur da Igreja.
Significado teológico
O Terço da Divina Misericórdia tem um conteúdo extremamente rico, por isso vale a pena fazer uma pausa para considerar o significado de cada palavra e frase. Toda a oração deste terço é dirigida a Deus Pai, a quem oferecemos Seu diletíssimo Filho em expiação dos nossos pecados e dos do mundo inteiro, e pelos méritos de Sua dolorosa paixão imploramos a misericórdia de Deus para nós e para o mundo inteiro. Ao recitarmos essa oração, participamos do sacerdócio universal de Cristo, oferecendo a Deus Pai o seu Filho amado em expiação dos nossos pecados e dos do mundo inteiro.
Houve uma disputa teológica sobre o significado do conteúdo do Terço, que dizia respeito à forma correta e, consequentemente, à origem sobrenatural dessa oração. O padre Wincenty Granat, ex-reitor da Universidade Católica de Lublin (KUL), acreditava que o Terço da Divina Misericórdia continha erros teológicos e, portanto, não poderia vir de Deus. Em um simpósio sobre o tema da Divina Misericórdia, ele apresentou um artigo, no qual escreveu: Existem erros teológicos significativos na oração acima: primeiro, a divindade do Filho é a mesma de Deus Pai e, portanto, não pode ser oferecida ao Pai Eterno; em segundo lugar, não é permitido sacrificar ou oferecer a Divindade de nenhuma forma; em terceiro lugar, a Divindade não pode ser uma expiação dos pecados, porque ela e, especificamente, Deus, perdoa os pecados, mas não é um sacrifício de expiação; é na natureza humana que o Salvador é a expiação dos nossos pecados.
Essa questão polêmica foi esclarecida pelo Pe. Ignacy Różycki, quem explicou que o significado da fórmula “Corpo e Sangue, Alma e Divindade (…) de nosso Senhor Jesus Cristo” deve ser considerado em sua totalidade; a palavra “Divindade” não pode ser retirada de contexto e analisada sozinha. É somente no contexto, escreve o Pe. Różycki, que se pode encontrar (…) a chave [para a interpretação correta das palavras], conforme exigido pela regra fundamental de toda crítica. Assim, estaríamos desafiando seriamente as regras da interpretação científica; estaríamos falsificando brutalmente o sentido que o Salvador quis dar a essa fórmula, e chegaríamos a um absurdo teológico se, sem levar em conta o contexto, explicássemos a palavra “Divindade” como “natureza divina”, já que é evidente que a natureza divina de Jesus Cristo é idêntica à do Pai e, por isso, não pode ser oferecida a Ele.
A fórmula contestada não apareceu pela primeira vez no conteúdo do Terço da Divina Misericórdia, mas por muito tempo já vinha sendo utilizada na Igreja no contexto eucarístico e cristológico. O contexto eucarístico mais importante e solene, observa o Pe. Różycki, é a definição dogmática da presença eucarística de Cristo inteiro, expressa pelo Concílio de Trento, em que a definição “Divindade” não significa a natureza divina comum a três Pessoas. Significa diretamente – isto é, exatamente, estritamente – a Pessoa Divina de Jesus. A mesma fórmula, em contexto eucarístico, apareceu na oração ditada pelo anjo às crianças de Fátima, em 1916. Assim, ao recitarmos o Terço da Divina Misericórdia, oferecemos ao Pai não só a Divindade de Jesus, mas toda a Sua Pessoa, ou seja, tanto a Sua Divina identidade, como toda a Sua humanidade, composta de corpo, sangue e alma.
Entretanto, pode surgir a pergunta: a pessoa inteira do Filho de Deus encarnado pode ser oferecida a Deus? E esta pergunta é respondida positivamente pelo Pe. Różycki, referindo-se à Carta de São Paulo aos Efésios, no qual o apóstolo diz que Cristo, cumprindo a sua missão, foi o primeiro a entregar-se por nós como oferenda e sacrifício (Ef 5, 2). A partir desse texto paulino, escreve o Pe. Różycki, infere-se que o objeto do sacrifício oferecido por Cristo a Deus Pai era Ele mesmo como um todo, ou seja, Sua humanidade total e Sua Pessoa Divina. Portanto, ao recitarmos estas palavras do Terço, unimo-nos ao sacrifício de Jesus na cruz, oferecido por Ele para a nossa salvação. Recitando as palavras “Vosso diletíssimo Filho”, referimo-nos ao amor que Deus Pai tem por seu Filho, e Nele, por todos os homens. Recorremos, escreve o Pe. Różycki, ao motivo mais forte que temos para ser ouvidos por Deus.
No Terço, pedimos misericórdia para nós e para o mundo inteiro. O pronome “nós” refere-se à pessoa que está rezando essa oração e a todos aqueles por quem ela deseja e é obrigada a rezar. Por outro lado, “o mundo inteiro” refere-se a todos que vivem no mundo e às almas que sofrem no Purgatório. Portanto, quando recitamos fielmente o texto do Terço da Divina Misericórdia, estamos ao mesmo tempo realizando um ato de misericórdia para com o próximo, o que é condição para que recebamos a misericórdia de Deus.
Promessas
Jesus associou grandes promessas a esta oração, sob a condição de que a devoção à Divina Misericórdia fosse devidamente praticada, ou seja, no espírito de confiança em Deus e de misericórdia para com o próximo. Essa confiança se expressa na perseverança na oração; quanto maior a confiança, maior a perseverança na recitação do Terço. Jesus disse à Irmã Faustina que tudo pode ser obtido por meio deste Terço, mas Ele nunca afirmou que isso se daria imediatamente e depois de recitá-lo uma única vez – com exceção da graça de uma boa morte. Em seu Diário, a Irmã Faustina descreve situações em que seus pedidos foram atendidos após uma única recitação do Terço, como por exemplo, para acalmar uma tempestade (D. 1731), e situações em que ela rezou essa oração continuamente por muitas horas, como por exemplo, para pedir chuva (D. 1128). Quando ela rezava pelos agonizantes, às vezes uma única recitação do Terço era suficiente para obter para eles a graça de uma morte feliz e serena, e em outras ocasiões, foi preciso recitá-lo muitas vezes, quando aquela alma precisava de muita ajuda orante (D. 1035).
Jesus associou a recitação confiante do Terço da Divina Misericórdia à promessa de obter todas as graças, quando disse: “Pela recitação desse Terço agrada-Me dar tudo o que Me pedem” (D. 1541), acrescentando: “se for (…) de acordo com a Minha vontade” (D. 1731). A vontade de Deus é a expressão de Seu amor pelo homem e, portanto, qualquer coisa que seja incompatível com ela é má ou prejudicial e, portanto, não pode ser concedida pelo Pai amoroso, que deseja apenas o bem para o homem, na perspectiva da eternidade. Essa promessa geral não se refere apenas às graças sobrenaturais, mas também às bênçãos temporais.
As promessas específicas dizem respeito à hora da morte, ou mais precisamente, à graça de uma morte feliz e serena, isto é, em estado de graça salvífica, e sem medo ou terror. Essas graças podem ser obtidas não apenas por aqueles que recitem este Terço com confiança, mas também por aqueles junto aos quais, em seu leito de morte, outros o recitem. Defenderei na hora da morte, como Minha glória, toda alma que recitar esse Terço — disse Jesus — ou quando outros o recitarem junto a um agonizante — eles conseguirão pelo agonizante a mesma indulgência. Quando recitam esse Terço junto a um agonizante, aplaca-se a ira de Deus, a misericórdia insondável envolve a alma (D. 811). A graça de uma boa morte, ou seja, a conversão e o perdão dos pecados, é prometida por Jesus mesmo depois de uma única recitação de todo o Terço no espírito de devoção à Divina Misericórdia, ou seja, na atitude de confiança em Deus.
Ir. M. Elżbieta Siepak ISMM
Para uma análise teológica completa, veja: Ignacy Różycki: Nabożeństwo do Miłosierdzia Bożego, Cracóvia 2008, pp. 105-115.
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História da instituição da Terço da Divina Misericórdia:
Tradução: Robert Janowski
Revisão gramatical: Camila Zarembski
Revisão final: Maida Tavares da Silva