O espanto e a admiração tomam conta de mim
ao ver a grande majestade de Deus,
que desce até mim, que sou a própria miséria.
Eleva-se então da minha alma a gratidão para com Ele,
por todas as graças que me concede,
especialmente pela graça da vocação
para o Seu exclusivo e santo serviço (D. 1814).
Cada vocação é um dom de Deus para o ser humano, mas um dom especial é a vocação para o serviço de Deus no sacerdócio e na vida consagrada. Esse convite de Deus não é dirigido a todas as pessoas, mas apenas às escolhidas. A escolha dEle é totalmente livre e permanece um mistério para nós. Não importa a origem, a educação, a posição social, as habilidades ou até mesmo a perfeição pessoal. A Sagrada Escritura fala de forma simples: “Chamou a si os que Ele queria” (Mc 3, 13).
A vocação para a vida religiosa é um convite para uma comunhão mais profunda com Jesus e para participar na Sua missão. Ela exige um amor esponsal com Cristo, seguindo os conselhos evangélicos de castidade, pobreza e obediência, e o desejo de compartilhar com Ele a preocupação pela salvação e santificação do mundo. Em cada instituto de vida consagrada, o carisma define como devemos imitar Jesus e quais tarefas devemos realizar para participar de Sua missão. Na Congregação das Irmãs de Nossa Senhora Mãe da Misericórdia, as irmãs, de acordo com o carisma, participam da vida de Jesus Misericordioso e de Sua missão salvífica, revelando ao mundo o amor misericordioso de Deus pela humanidade.
Agradeço-Vos, Deus, pela graça da vocação,
por ser chamada para somente servir a Vós,
dando-me a possibilidade de Vos amar exclusivamente,
é uma grande honra para a minha alma.
Agradeço-Vos, Senhor, pelos votos perpétuos,
por essa união de amor puro,
por Vos terdes dignado unir o Vosso Coração puro
ao meu e unido o meu coração
com o Vosso pelo vínculo da pureza (D. 1286).
Assim, Santa Faustina agradeceu pela graça de sua vocação. Ela sabia que era um dom da misericórdia de Deus, que recebeu, gratuitamente, de uma maneira totalmente não merecida, um dom tão grandioso que não pode ser comparado a nenhuma outra vocação. Ser a esposa de Cristo – é a maior dignidade para um ser humano na terra. Prefiro ser uma pobre coitada, sem valor, num convento, a ser uma rainha no mundo (D. 254). Quando ela descobriu sua vocação e entrou no convento, parecia-lhe que havia entrado no paraíso. De seu coração brotava uma oração de agradecimento, pois Deus havia feito grandes coisas por ela, chamando-a para o amor esponsal com Seu Filho e para participar de Sua missão. Estou imensamente feliz – escreveu no Diário – embora eu seja tão pequena, não gostaria de modificar nada daquilo que Deus me deu. Não me trocaria nem com um serafim, tal é o conhecimento interior que Deus me deu Dele mesmo (Dz. 1049).
Ela sempre se sentiu honrada com a vocação para o serviço exclusivo a Deus e respondeu a isso de maneira perfeita com toda a sua vida. Muitas vezes, nas páginas de seu Diário e em suas cartas, ela expressava não apenas o quanto apreciava essa graça, mas também como respondia a ela. Caminho pela vida por entre arco-íris e tempestades – escreveu – mas com a fronte altivamente erguida, porque sou filha de Rei, porque sinto que o sangue de Cristo circula nas minhas veias, e coloquei a minha confiança na grande misericórdia do Senhor (D. 992).
Ela entendia que a graça da vocação não era apenas uma grande dignidade como esposa do Filho de Deus (após os votos perpétuos, ela usava uma aliança com o nome: Jesus), mas também um compromisso de segui-Lo até o fim. Estar com Jesus não apenas nos momentos de transfiguração no monte Tabor, mas também na agonia do jardim Getsêmani e no Calvário. A esposa deve ser semelhante ao seu esposo (D. 268) – falou-lhe Jesus e ela sabia bem como deveria ser esta semelhança. Ela escreveu para a irmã Ludwina: Oh, irmã, que alegria sinto em minha alma por Jesus ter me chamado para a nossa Congregação, tão intimamente ligada à obra de envio e a missão de Jesus, que é a salvação das almas. Se formos fiéis a essa missão, certamente muitas almas nos agradecerão a sua entrada no céu. Mas, devemos lembrar que nossa missão é elevada, semelhante à missão de Jesus. Devemos ter plenamente o espírito e os dons de Jesus, ou seja, nos esgotarmos por completo por amor a Deus em benefício das almas imortais. (…) Irmã querida, não tenhamos medo de oferecer um sacrifício semelhante ao de Jesus na cruz; não tenhamos medo de modo algum, pois o amor nos dará força e coragem para fazê-lo. Que alegria poder se esgotar por nosso Esposo e Rei Imortal. Que alegria ser como uma flor do campo sob os pés de Jesus, murchar lentamente e encantar Seu Divino Coração com nossa fragrância (Cartas, 253-254).
No seu Diário, Irmã Faustina retratou melhor o que é a graça da vocação e como vivê-la no cotidiano. O convite para viver uma vida “a dois” com Jesus é um grande dom, mas também uma enorme responsabilidade. Cumpri-lo, embora, às vezes, exija usar uma coroa de espinhos e carregar uma cruz, traz-nos também a alegria do cumprimento da vocação cristã e realização da sua humanidade.
Tradução: Mariusz Korus
Revisão gramatical: Ada Nunes Krukar
Revisão final: Maria da Glória Jardim Sampaio